DEU CERTO! RAP da Saúde no Dia Nacional de Luta Antimanicomial

21 maio

No último sábado, 18 de maio, ativistas, profissionais de saúde e usuários dos serviços se reuniram no Parque Garota de Ipanema, no Arpoador, para celebrar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A data lembra o I Encontro dos Trabalhadores de Saúde Mental, que aconteceu em 1987, na cidade de Bauru, SP, quando profissionais da área denunciaram a desumanização vivenciada por pacientes de hospitais psiquiátricos no país.

Os jovens da Rede de Adolescentes e Jovens Promotores de Saúde – RAP da Saúde esquentaram a tarde do sábado frio e cinzento, abrindo o evento com uma apresentação de teatro que, além de arrancar aplausos, estimulou a plateia a refletir sobre o preconceito contra os pacientes psiquiátricos e a questionar os limites que separam razão e loucura.

Jovens do polo Jacarezinho, do RAP da Saúde encenam trecho de peça sobre a questão das dorgas

Jovens do polo Jacarezinho, do RAP da Saúde encenam trecho de peça sobre a questão das drogas. FOTO: Lucas Pablo de Oliveira

“O polo Jacarezinho tem um diálogo forte, além do teatro, com a discussão sobre o uso de álcool e drogas. Fomos convidados para encenar o trecho de uma peça, articulando a questão da medicalização da vida – porque hoje tudo é terapia, tudo é autoajuda. Daí fizemos uma sátira questionando quem é louco e quem é são. A peça foi montada a partir das conversas que temos no polo, muitas delas trazendo psicólogos e terapeutas ocupacionais para dialogar”, conta Daniel de Souza, facilitador regional do polo Jacarezinho e, há quase dez anos, militante do movimento de luta antimanicomial.

O evento, que recebeu o apoio da Superintendência de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, contou também com atividades abertas ao público, como oficinas de pintura, fotografia e grafite, realizadas em tendas espalhadas pelo parque. Em um desses estandes, dinamizadores e multiplicadores do RAP da Saúde puderam conhecer mais sobre a questão da saúde mental e interagir com quem passava.

“Na tenda, apresentamos o projeto, conversando com o público sobre protagonismo juvenil e promoção da saúde, além de distribuir preservativos e materiais informativos. Hoje, como em muitas outras ações em que participamos, explicamos que, apesar do nome, o RAP não é um projeto de música. Mas o mais importante é que tiramos muitas dúvidas em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, em especial sobre o uso da camisinha”, brinca Joyce Ferreira, 23 anos, dinamizadora do polo Rocinha.

Protagonismo contra práticas manicomiais

A apresentação teatral do RAP da Saúde foi seguida da mesa de debate “Quais são os manicômios da atualidade?”, composta por profissionais de saúde, usuários e pesquisadores da área.

A dinamizadora Joyce Ferreira ao lado de Luiza Cromack, da coordenação do RAP: troca de informações com o público

A dinamizadora Joyce Ferreira ao lado de Luiza Cromack, da coordenação do RAP: troca de informações com o público. FOTO: Lucas Pablo de Oliveira

Os convidados discutiram a necessidade de se prosseguir com a participação do Movimento de Luta Antimanicomial, mesmo com a reforma psiquiátrica, que fez com que o foco do tratamento deixasse de ser o hospital e passasse se concentrar na rede de atendimento psicossocial e seus serviços.

A psicóloga Ana Carla Silva inaugurou o debate afirmando que não é porque manicômios foram fechados que a sociedade deixou de produzir todos os dias uma série de práticas manicomiais. “Temos que pôr em xeque essas práticas e o Movimento de Luta Antimanicomial é muito importante nesse sentido, porque nos faz escutar o usuário. E não vamos conseguir que os usuários sejam protagonistas, se não estimularmos cada vez mais a capacidade deles militarem e lutarem pelos seus direitos”, avalia.

Na mesa, Carlos Sorriso, um dos exemplos das conquistas do protagonismo. Usuário do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Mané Garrincha, no Maracanã, falou sobre como a discriminação dificulta a vida do paciente psiquiátrico. “Já tive, durante muito tempo, problemas com drogas e é muito difícil que as pessoas reconheçam essa condição como um problema de saúde. Dizem que passamos por esse tipo de coisa porque não temos vergonha na cara, por um problema de caráter. Mas, só quem passa por isso sabe exatamente como é”, conta.

A representante nacional do Movimento de Luta Antimanicomial, Iracema Polidoro, destacou que é frequente que o manicômio seja reeditado dentro de casa. “Muitas vezes é a família que interna o paciente no próprio lar. A pessoa é retirada da internação propriamente dita, mas fica confinada, sem direitos, por um simples motivo: o preconceito”, alerta Iracema, que também é familiar de paciente psiquiátrico.

O debate foi encerrado com apresentações musicais. Entre elas, a Roda de Samba do CAPS AD Mané Garrincha e os blocos de carnaval Tá Pirando Pirado Pirou, Simpatia é Quase Amor e Loucura Suburbana, formado por profissionais de saúde do Instituto Nise da Silveira.

“Não sabia que o protagonismo também era importante nessa área da saúde. Foi legal aprender. Nós circulamos e procuramos conversar com as pessoas sobre o tema da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, além de falar um pouco sobre o que é o RAP da Saúde. Mesmo o frio, que não combina com a praia, não espantou o pessoal”, diz Ricardo Lorio, 16 anos, multiplicador do polo Sulacap.

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