O período da gestação é o momento ideal para acolher o pai como membro participativo da promoção da saúde de sua família. Essa foi a principal conclusão do VI Simpósio Paternidades, Singularidades e Políticas Públicas: Paternidade e Cuidado, realizado na semana passada, dias 13 e 14 de agosto, na Universidade Veiga de Almeida (UVA), na Tijuca. Promovido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio), em parceria com o Comitê Vida e o Instituto Promundo, o evento reuniu profissionais e gestores de saúde, educação e áreas afins para trocar experiências e discutir a adoção de políticas públicas em prol da paternidade.
O debate foi organizado em torno de dois painéis: Masculinidades, Paternidades e Práticas de Cuidado e Boas Práticas de Valorização da Paternidade – que abordou as boas práticas na atenção ao parto e ao nascimento, na Atenção Primária, na mídia, nas escolas e nas redes sociais. Cerca de duzentas pessoas participaram do encontro, que também proporcionou a realização de cinco oficinas temáticas: Unidade Básica Parceira do Pai; Maternidade Parceira do Pai; Paternidades e Diversidades; Juventude, Saúde Sexual e Reprodutiva e Paternidade; e Masculinidades, Paternidades e Formação.
Intersetorialidade: representantes da Prefeitura do Rio, do Governo Federal e da sociedade civil juntos para discutir políticas públicas para valorização da paternidade
Para a coordenadora do evento, a médica Viviane Manso Castello Branco, que também é coordenadora de Políticas e Ações Intersetoriais da Superintendência de Promoção da Saúde da SMS-Rio, a iniciativa ressalta a importância e se promover uma articulação intersetorial em torno do tema da paternidade, envolvendo diferentes setores da sociedade. “Reunimos representantes da Prefeitura do Rio, do Governo Federal, da academia e da sociedade civil, além de jovens e adolescentes, mostrando que o tema da paternidade é transversal e todos os setores sociais devem se unir para ampliar a participação do pai nas instituições”, avalia.
Eduardo Chakora, coordenador nacional da Política de Atenção à Saúde do Homem do Ministério da Saúde: “A meta é que os homens participem cada vez mais do pré-natal, do parto, da amamentação e realizem todos os exames preventivos de rotina, praticando o autocuidado e o cuidado da saúde de suas mulheres e filhos”.
Presente ao evento, o coordenador nacional da Política de Atenção à Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Chakora, comentou os avanços na incorporação de políticas públicas para a valorização da paternidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A meta é que os homens participem cada vez mais do pré-natal, do parto, da amamentação e realizem todos os exames preventivos de rotina, praticando o autocuidado e o cuidado da saúde de suas mulheres e filhos”, aponta.
Boas Práticas de Valorização da Paternidade
No painel Boas Práticas de Valorização da Paternidade, profissionais de saúde que lidam diretamente com a atenção ao parto e ao nascimento contaram como esses processos estão sendo aperfeiçoados para promover o acolhimento dos pais. “Precisamos estar atentos aos momentos em que os homens vão às unidades de saúde, por exemplo, para vacinar seus filhos. Neste contato, temos a oportunidade de conversar com os pais sobre o cuidado de seus filhos e valorizar a sua presença no serviço de saúde”, compartilhou Rachel Sarmento Reis, da Clínica da Família Emygidio Costa Filho.
Participar da amamentação é uma etapa muito importante no cuidado do bebê. Durante o evento, profissionais de saúde trocaram experiências e refletiram sobre como os serviços de saúde podem contribuir para a valorização do pai como cuidador.
Outro momento importante para acolher o pai como cuidador de seu filho é o da licença-paternidade. “Sabemos que o homem tem cinco dias de licença-paternidade, então organizamos nossa agenda para fazermos a visita domiciliar neste período em que o pai estará em casa, mais sensível e próximo do bebê”, conta o enfermeiro Sancler Corrêa, da Clínica da Família Santa Marta.
Antes do debate sobre boas práticas de valorização da paternidade nas escolas, na mídia e nas redes sociais, esquete da equipe Jacarezinho da Rede de Adolescentes e Jovens Promotores da Saúde (RAP da Saúde) trouxe o olhar dos filhos sobre a paternidade. A apresentação promoveu a reflexão sobre famílias modernas e pais ausentes. Em seguida, Dilma Cupti de Medeiros, da SMS-Rio; Luiz Costa, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro; Cleide Ramos, da MultiRio; e Thiago Queiroz, do blog “Paizinho, vírgula” discutiram como esses espaços de educação e comunicação podem contribuir para a formação de uma cultura que valorize a paternidade.
RAP da Saúde: jovens e adolescentes promotores da saúde apostam na linguagem do teatro para abordar novos modelos de família e pais ausentes
Como encerramento do primeiro dia de atividades, o VI Simpósio Paternidades, Singularidades e Políticas Públicas: Paternidade e Cuidado promoveu um coquetel de lançamento da versão preliminar do Manual P, sobre boas práticas em masculinidades e cuidado, e de pré-lançamento do livro Chutando Pedrinhas, ambos do Instituto Promundo.
“O Manual P reúne metodologias participativas para profissionais de saúde, agentes comunitários e outras lideranças que desenvolvem ações de valorização da paternidade junto a grupos de homens, apenas mulheres ou casais. A publicação também traz sugestões sobre como levar o homem até a unidade de saúde e oferece, por exemplo, um modelo de solicitação de liberação do pai do emprego para acompanhar o pré-natal”, apresenta Marco Aurélio Martins, coordenador executivo do Instituto Promundo. “Gestores de saúde que desejem participar de capacitações sobre o tema podem procurar o Instituto Promundo”, convida.
Oficinas promovem a interlocução entre participantes
Quais são os direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes e jovens? Como pessoas nesta faixa etária podem ser estimuladas a exercer uma paternidade cuidadosa e participativa? Essas foram as questões abordadas pela oficina que teve o maior número de participantes: Juventude, Saúde Sexual e Reprodutiva e Paternidade. A partir do jogo “Em seu lugar”, a atividade instigou profissionais de saúde a refletirem sobre estereótipos e relações de poder que afetam a sua relação com esta faixa etária. “Conversamos sobre como a garantia ou não dos direitos sexuais e reprodutivos impacta a saúde de jovens e adolescentes – e qual o papel dos profissionais de saúde nesse contexto”, conta Vanessa Fonseca, assistente de programas do Instituto Promundo, que conduziu o trabalho.
Também propondo uma quebra de paradigmas, a oficina Paternidades e Diversidades discutiu a paternidade e a maternidade nas relações homoafetivas. “Nossa proposta foi conversar, sem preconceitos, sobre os novos modelos de família que estão surgindo e os desafios que eles trazem para a rotina dos profissionais de saúde”, explicou Marcos Nascimento, do Instituto Noos, coordenador da oficina. A partir de vídeos que abordam a questão, o grupo discutiu casos reais sobre o tema.
Em Maternidade Parceira do Pai, o grupo experimentou uma verdadeira tempestade de ideias sobre o papel que o homem ocupa nesses espaços de atenção ao nascimento. “Nossa proposta foi pensar novas medidas de intervenção social para acolher os homens nas maternidades, desde a estrutura física dos estabelecimentos até em atividades lúdicas e informativas”, resumiu o coordenador da oficina, o enfermeiro Márcio Luís Ferreira, que atua no Serviço de Educação Permanente da Maternidade Carmela Dutra.
À esquerda, Viviane Manso Castello Branco, coordenadora do evento, comemora: Vimos administradores, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde refletindo se têm feito um bom atendimento ou estão excluindo homens, como eles. A maior parte deles saiu daqui compromissada, com ideias de motivação e multiplicação em seus serviços”
Na oficina sobre Masculinidades, Paternidades e Formação, os integrantes discutiram como a formação de profissionais de saúde e educação pode contribuir para a sensibilização sobre a valorização da paternidade. “Como metodologia, organizamos grupos de trabalho que geraram propostas para a formulação de uma aula ou curso sobre saúde e paternidade,” descreve Maria Luiza Carvalho, doutora em psicosociologia e atuante na UFRJ, que dividiu a coordenação da oficina com Cláudia Ribeiro, pesquisadora em Saúde Coletiva da UFF.
Já na oficina Unidade Básica Parceira do Pai, Viviane Manso Castello Branco e Sancler Corrêa, que conduziram a atividade, buscaram estimular os profissionais de saúde a repensar o modo como acolhem os pais e como podem contribuir para o maior envolvimento dos homens no cuidado e atenção à seus filhos. “Tivemos um público masculino significativo – e isso é muito bom. Vimos administradores, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde refletindo se têm feito um bom atendimento ou estão excluindo homens, como eles. A maior parte deles saiu daqui compromissada, com ideias de motivação e multiplicação em seus serviços”, comemora Viviane.
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